Depois do caso da Escola Base: 77% dos incidentes escolares estão relacionados a conflitos em grupos de WhatsApp

“Kombi era motel na escolinha do sexo”. A frase poderia ter sido confundida com mais uma mensagem espalhada pelas redes sociais, mas é, na verdade, uma manchete do jornal Notícias Populares publicada há 25 anos. A reportagem falava sobre supostos casos de abuso sexual de crianças na Escola de Educação Infantil Base, em São Paulo, a partir de depoimentos de duas mães de alunos. Em questão de dias, o caso virou um dos maiores escândalos da mídia brasileira.

O colégio foi pego de surpresa e demorou para se posicionar. Enquanto isso, os canais de imprensa bombardeavam a população com acusações antecipadas. A instituição de ensino foi depredada. Os donos da escola sofreram ameaças de morte. Professores foram perseguidos e obrigados a mudar de cidade. Tempos depois, o caso foi arquivado por falta de evidências. Mesmo com a inocência provada, os educadores nunca mais voltaram a trabalhar em uma escola

Do caso da Escola Base para os dias atuais

Corta para os dias atuais. Com o uso intenso de redes sociais, as fake news ganharam força ainda mais devastadora. Uma informação precisa de minutos para ser viralizada. Além disso, a imprensa deixou de ter o controle da informação e agora divide espaço com atores políticos ou haters interessados em manipular a opinião pública.

Tudo fica ainda mais preocupante quando trazemos essa realidade para dentro das instituições de ensino. Pesquisa realizada pelo Instituto iStart revela que 77% dos incidentes escolares estão relacionados a conflito de grupos de WhatsApp, tanto entre alunos quanto entre responsáveis. A imagem da instituição pode ser comprometida por notícias reais, falsas ou mesmo informações descontextualizadas.

Nesse ambiente onde os boatos se espalham como epidemia e se tornam exponencialmente explosivos, as escolas nunca estiveram tão vulneráveis. O potencial de crise é ainda maior do que o caso Escola Base. E o fato é que a maioria delas não está preparada para se blindar de acusações falsas nem para minimizar eventuais crises. Isso porque, para que isso ocorra, é necessário um trabalho de comunicação de longo prazo e preventivo, e não somente reativo.

A importância do planejamento

Com planejamento, uma equipe especializada consegue, por meio de protocolos pré-estabelecidos, identificar os problemas e tomar ações preventivas em cada situação. Além de estruturar a equipe para agir em situações críticas, o trabalho de relações públicas, com foco em assessoria de imprensa, permite a construção de um canal de diálogo com jornalistas para, em momentos sensíveis, agir com rapidez e transparência. Junto a isso, é possível utilizar as redes sociais para abrir diálogo com a comunidade escolar.

A efetividade será maior se tudo isso for pensado a longo prazo. Com um plano de comunicação estratégico e consistente, o gestor pode não só reduzir os danos de eventuais crises como ainda reverter essas possíveis ameaças em oportunidades. O fato é que acontecimentos negativos acontecem a todo momento, em todos os lugares, principalmente nas escolas – e isso não representa, por si só, uma crise. O que define se eles se transformam ou não em um grande problema é a maneira como são administrados.