Grupos de pais no WhatsApp. Fotos e posts que misturam o público e o privado nas redes sociais, expondo professores e alunos. Hashtags que viralizam na mesma velocidade com que acabam com a reputação construída em anos de história. Situações recorrentes como essas já colocam as escolas dentre as instituições mais suscetíveis a crises. Por isso, a gestão de crise em escolas tem se tornado cada vez mais importante como uma precaução.
Nos Estados Unidos existem consultorias especializadas neste assunto na área educacional, especialmente porque naquele país o índice de violência ligado a atentados nas instituições de ensino é alto. Mas, no Brasil, quando uma crise bate à porta da escola, mantenedores e gestores simplesmente não sabem o que fazer. E aí o que se vê é uma sucessão de erros – de posicionamento, de comunicação e principalmente de gestão.
E o que poderia ser apenas um foco de crise, iniciado, por exemplo, nas redes sociais, acaba destruindo a imagem da instituição, com desdobramentos inclusive na grande imprensa.
Gestão de crise em escolas: bullying
O filme “Aos Teus Olhos”, lançado recentemente, retrata como o poder das mídias sociais pode acabar com a reputação de um professor e, consequentemente, da escola. Tudo começa com um boato lançado no grupo de whatsapp dos pais e que vai parar no Facebook da escola. Sob acusação de ter assediado uma criança de 7 anos, o professor de natação tenta provar sua inocência.
Casos semelhantes na vida real são inúmeros. Temas como bullying, pedofilia, violência, assédio moral ou sexual, suicídio entre adolescentes, fatalidade com alunos dentro do ambiente escolar, estão entre os mais comuns. E o despreparo de diretores e professores para lidar com tais ocasiões pode ser minimizado com uma boa estratégia de gestão de crise.
Atuando há mais de 15 anos em comunicação no segmento educacional, certa vez ouvi que há dois tipos de escolas: “as que já enfrentaram uma situação de crise, e as que ainda irão enfrentar”.
A importância da prevenção
Escolas que possuem um plano preventivo agem com precisão, pois têm as equipes preparadas previamente, o que reduz significativamente a possibilidade de erros durante o processo de gestão, blindando ao máximo todos os stakeholders envolvidos.
Aquelas que operam no momento da crise conseguem obter suporte e orientação para conter desdobramentos negativos maiores e executar um planejamento pós-crise para minimizar seus efeitos.
Em paralelo, a escola sempre deve se atentar a assuntos que estão em evidência na mídia, nas rodas de conversas e podem afetar diretamente a comunidade escolar. Abrir espaços para a discussão e reflexão acerca desses assuntos precisa fazer parte da sua rotina.
Já durante uma crise, as recomendações para as escolas são semelhantes às oferecidas às empresas.
Criar um comitê de crise para decidir as ações, envolvendo assessoria de imprensa e diretoria;
Obter a maior quantidade possível de informações antes de tomar uma decisão de posicionamento – a avaliação da crise levará basicamente em consideração o impacto social, a repercussão e as consequências jurídicas;
Reforçar que a empresa tomou conhecimento e está adotando todas as providências necessárias para solucionar a situação;
Declarar que a escola está investigando o ocorrido e adotando as providências cabíveis;
Evitar usar expressões como fraude, tragédia, crime, escândalo, e outras com conotação negativa;
Evitar utilizar o nome da escola nas comunicações – substituir por “a instituição” ou “a escola”;
Valorizar os aspectos positivos da atuação da empresa durante a crise, sempre com transparência e mantendo uma relação amistosa com a imprensa;
Mostrar solidariedade ao fato, se for cabível;
E, por último, monitorar a crise full time e ter agilidade em todo o processo.
No final, a gestão de crise em escolas são procedimentos básicos que devem ser dimensionados de acordo com a proporção de cada crise, considerando o contexto e o universo de cada escola.
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