O executivo apresenta suas perspectivas para os próximos anos da educação brasileira impactada pelos avanços da tecnologia em sala de aula

O terceiro episódio do podcast MiraTalks teve a participação de João Lacerda, executivo com mais de 25 anos de experiência no sistema educacional. Dentre os temas abordados, destacam-se a tecnologia em sala de aula, as transformações nos modelos de ensino e as previsões para o mercado estudantil.

Esse debate foi conduzido por Juliana Miranda, sócia da Mira Comunicação, e Yolanda Drumon, coordenadora de PR Strategy na Mira. O MiraTalks lança um novo episódio toda primeira segunda-feira de cada  mês e é realizado em parceria com a Carijó Filmes.

Professores e tecnologia: inimigos ou aliados?

foto do miratalks

Neste ano, Sam Altman, CEO da empresa criadora do Chat GPT, declarou acreditar que a inteligência artificial pode substituir professores no futuro. Ele afirma que o avanço tecnológico pode se tornar capaz de ocupar a mão de obra intelectual, e que isso pode gerar um problema grande de desemprego.

Porém, João Lacerda diz que não se pode esquecer que a escola tem um papel social na vida dos estudantes. O sociólogo Émile Durkheim realizou estudos sobre o significado social do trabalho do professor já no século passado e, desde então, suas pesquisas são utilizadas como base para entender o sistema educacional como coletivo, não individualista. Por isso, não é possível descartar a figura do educador na sala de aula.

Seiji Isotani, professor visitante de Harvard, também afirmou, em uma palestra sobre o ChatGPT, que a inteligência artificial servirá como um auxílio ao professor no aprendizado, não como um concorrente. “Podemos pensar o ChatGPT como um learning companion, ou seja, um companheiro de aprendizagem ou um tutor do estudante que vai ajudá-lo a processar as informações e trocar ideias com ele.”

João Lacerda reforça que o professor tem um papel insubstituível dentro das instituições de ensino, mas que toda a comunidade escolar precisa levar em consideração os avanços tecnológicos. “Vamos entender a tecnologia em sala de aula como uma aliada no processo de aprendizagem e colocar isso em prática. Não dá para virar de costas.”

O especialista comenta que o trabalho repetitivo já pode ser substituído pelas novas ferramentas. Um exemplo é a preparação da aula: o docente pode pedir para que a inteligência artificial crie uma aula como ponto de partida, para que possa ser melhorada manualmente pelo professor com base em seus próprios critérios.

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O modelo da escola e suas transformações no sistema educacional

O sistema educacional utilizado nos dias de hoje é o mesmo do século XIX. Inspirado no método industrial fordista, os estudantes são enfileirados em carteiras e recebem a matéria de maneira passiva, como um depósito de conteúdos, sem participação no próprio processo de aprendizagem.

Esse modelo vem sofrendo alterações no século XXI. Com a ascensão de escolas bilíngues, de metodologia ativa, que desenvolvem habilidades socioemocionais e inserem a tecnologia em sala de aula o cotidiano, os gestores educacionais precisam se atentar às novas ferramentas sem se perder em modismos ou em recursos sem propósito. “Se a escola não entender isso, ela não vai acompanhar esse movimento”, afirma Lacerda.

As instituições precisam mudar a forma como se organizam, para dar conta da velocidade dessas transformações. Porém, é preciso lembrar que a escola é vista como um porto seguro das famílias, então os estudantes não podem ser submetidos a testes de novas tecnologias sem eficácia comprovada. É por esse motivo que a comunicação com os responsáveis é tão importante: para explicar detalhadamente essas mudanças e os motivos de aplicá-las.

O futuro do mercado estudantil

foto no estúdio com o convidado falando

João Lacerda diz que os gestores estão passando por um momento tumultuado nas escolas. A recomposição financeira após a pandemia, a violência estudantil, as questões de preconceito de gênero e sexualidade e as constantes mudanças tecnológicas são alguns fatores. No ano de 2023, por exemplo, a violência escolar aumentou 50%, de acordo com dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC).

Em meio a tudo isso, os educadores precisam lidar com uma grande oferta de produtos tecnológicos diversos, com dificuldade para compreender quais são eficazes e quais são apenas modismos. Esses gestores precisam buscar as ferramentas que são comprovadas por órgãos confiáveis e que realmente trazem benefícios para a educação.

Apesar dessa turbulência, o executivo se mostra otimista com o futuro, visto que a situação atual representa inúmeras possibilidades de mudança no sistema educacional e no relacionamento com as famílias. “Eu só espero que as escolas entendam que isso não dá para esperar mais”, diz ele. “As instituições têm que arriscar os novos modelos. Já tem muita tecnologia à disposição delas para acelerar essas mudanças.”

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A importância de ter um propósito na educação

“O movimento da entrada de pessoas que nunca foram da área de educação para empreenderem no setor educacional foi muito saudável nos últimos anos”, afirma João. Esses indivíduos renunciam a carreiras bem pagas, como tecnologia e finanças, em nome do propósito do ensino. “Trabalhar com educação e não ter propósito é pôr o pé no lugar errado. Se você não tiver propósito, não funciona.”

Além disso, Lacerda fala que é importante ter paciência, pois os processos de educação são de longo prazo. É preciso ser paciente para colocar projetos em prática, acostumar os estudantes e educadores às mudanças com as novas tecnologias em sala de aula e ver o resultado aparecer. Essa virtude é válida em quase todas as áreas da vida, mas principalmente nas escolas.

A educação está no DNA da Mira Comunicação, que possui uma larga experiência no setor. A agência acredita na importância do propósito ao trabalhar com o ensino, indispensável para a formação completa dos seres humanos. “Essas questões fazem parte do sistema educacional e diferenciam bastante esse mercado de outros”, comenta Juliana Miranda. “Se não tem o propósito, não vai permanecer no setor.”