Live do Instituto DACOR promoveu conversa sobre racismo no esporte entre quatro especialistas com experiência no tema

De acordo com uma pesquisa realizada pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) em parceria com o Observatório de Discriminação Racial do Futebol e a Nike, 41,8% dos profissionais negros do futebol já sofreram racismo. Dentre os insultos, a maioria ocorreu nos estádios (53,9%) e nas redes sociais (31,4%).

O problema da violência racial em ambientes esportivos demanda políticas públicas de combate ao racismo em suas raízes sistêmicas. Porém, os debates atuais reduzem a questão às formas mais visíveis das discriminações, tratando dos sintomas em vez de curar a doença. Infelizmente, preconceito e racismo são naturalizados no meio esportivo.

Pensando nisso, o Instituto DACOR publicou uma live sobre o tema “Racismo e esporte no Brasil: a (hiper)tolerância do esporte ao racismo e seus porquês”. O episódio foi o 17º dos chamados “cursos de bolso” promovidos pela organização, que buscam refletir a respeito do recorte racial de assuntos da atualidade. A conversa foi apresentada por Alexandre Dantas, fundador do Instituto, e Helton Souto, presidente do DACOR.

Os convidados foram quatro ativistas negros com anos de estudo e experiência no tema. São eles:

  • Neilton Ferreira Junior, Doutor em Ciências pela Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo.
  • Soraia André, ex-judoca olímpica brasileira que ganhou medalhas nos Jogos Panamericanos e no Campeonato Panamericano de Judô.
  • Mário Aranha, ex-goleiro de diversos times brasileiros e escritor dos livros “Brasil Tumbeiro” e “Patrocínio”.
  • Marcelo Carvalho, diretor-executivo do Observatório de Discriminação Racial do Futebol.

Confira alguns temas abordados na live:

Razões que fazem do esporte um fenômeno hipertolerante ao preconceito e racismo

foto de garotos jogando bolaO doutor Neilton inicia falando das suas visões sobre o Esporte de uma maneira sistêmica, em vez de uma modalidade específica. Ele afirma que o racismo nas atividades esportivas vem de dentro do próprio ambiente do grupo, e não de sujeitos externos que invadem essa sociedade com o preconceito. Além disso, o esporte facilita a discriminação ao apresentar elementos que promovem altas expectativas e ideais, contribuindo para as categorizações de raça e classe.

Experiências de uma ex-judoca olímpica brasileira

Soraia André conta que começou a praticar o judô em uma época em que esse esporte ainda era proibido para mulheres no Brasil. No processo, ela enfrentou insultos racistas por parte das colegas, o que a fez tomar algumas ações de “embranquecimento” para tentar pertencer àquele espaço, como o alisamento do cabelo. A esportista também comenta a herança da escravização da população negra, que causa uma desumanização e objetificação dos corpos dessas pessoas ainda hoje, especialmente das mulheres negras.

As diferentes manifestações do preconceito racial

O ex-goleiro Mário Aranha aponta as diferenças de manifestação do preconceito e racismo entre a atividade esportiva amadora e profissional. No esporte amador, o preconceito aparece em sua forma mais pura, de segregação e elitização do futebol profissional, que impede a entrada de determinados grupos sociais. Já no esporte profissional, a discriminação é mais “estratégica”, porque acontece de forma escondida para não perder sua imagem e audiência.

Perspectivas de ascensão social para pessoas negras

Marcelo Carvalho discorre sobre as poucas oportunidades oferecidas às pessoas negras, que muitas vezes escolhem a carreira esportiva por acreditarem ser a única forma de ascensão em uma sociedade racista. Porém, apenas 0,1% dos atletas de futebol ganham salários altos. Além disso, mesmo os mais famosos não têm a instrução financeira o suficiente para cuidar do dinheiro que recebem, e acabam perdendo todos os seus ganhos ao final da vida.

Quer entender mais sobre o tema? Assista a conversa na íntegra: 

Sobre o Instituto DACOR

A Mira Comunicação é uma parceira do Instituto DACOR. Criado em 2020, é uma organização não-governamental que nasceu da vontade de ser um propulsor de ações para combater o racismo no país. Atua por meio da reunião, integração e disseminação de dados e conhecimentos em projetos para fomentar políticas públicas e privadas por equidade racial.